terça-feira, março 17, 2015
quinta-feira, janeiro 15, 2015
Perceber o que se revela no que se esconde
E o mundo por ser redondo, tem por destino embolar
Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar
Desde que o mundo é mundo, nunca pensou de parar
Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar
E tem hora que até me canso de ver o mundo rodar"
segunda-feira, agosto 29, 2011
levantei-me.
(valter hugo mãe em a máquina de fazer espanhóis. p.52, 1a edição cosac naify)
quarta-feira, março 31, 2010
Nada
Must be my double
And I can't forget, I can't forget
I can't forget but I don't remember what"
(I can´t forget- Leonard Cohen)
Que cheiro é esse? Que cheiro é esse que me tomou de jeito? Simples e suave. Cheiro de banho? Perfume, shampoo, sabonete? Um cheiro que me trazia lembranças que não conseguia lembrar. Já tinha sentido. Isso sim. Mas o cheiro não se transformou em nenhuma imagem. Fechei os olhos pra tentar visualizar.
Nada.
Não tinha lembranças associadas ao cheiro. Era só a sensação boa do cheiro. Será o rapaz ao lado? Me deu vontade de perguntar. Só que, pelo consenso social, ia parecer um flerte. Ou uma estranheza desvairada. De qualquer forma não estava interessada no moço. Apenas naquele cheiro. Cheiro de banho bom? Mas quem, naquela hora-noite-segunda-feira estaria saindo de um banho?
Nada.
As pessoas sonecavam com o balanço da van. E o fechamento dos olhos era facilitado pela luz capenga meio apagada. E a canseira. O fim do dia de labuta. Fechava os olhos pra sentir melhor o cheiro. Respirava fundo. Ai, que cheiro! Já tinha sentido antes, certamente. Já tinha sido bom, sem dúvidas. Mas da onde vinha?
Nada.
Sei que não de mim. Recorri a todo o acervo das memórias boas. Não achei. Respira fundo, pensa outra vez. Será que já beijei o cheiro? Será que já dormi com o cheiro? Cochilei. Dormi como um bebê. Sonhei. Acordei quando já havia chegado. Com um cutucão. Mas não lembrei do cheiro. E ele se foi.
E nada.
sábado, novembro 21, 2009
Just war
Pessoas transformando grãos em rochas, superdimensionando pequenos infortúnios, dramatizando tudo que não tem drama, procurando briga em ovo, fazendo-se de martír, complicando tudo que é simples. Reclamar era a palavra de ordem, em alto e bom som. Não na direção de mudança, mas para perpetuar o hábito da insatisfação plena. O lema: nada está bom e nunca estará. Nem os cachorros escapavam dos gritos, esses desarticuladores da ordem que pulavam quando não deviam. Talvez por nunca ter lutado em uma guerra de verdade, a guerra cotidiana era a mais terrível. Essa que vivenciava desdonde a memória alcança, quantas lágrimas e retalhos em segredo. Ninguém nunca soube, nem saberia. Afinal, era só uma melancolia de rotina.
Feliz quando chove
in the backseat,
I don't have to drive,
I don't have to speak,
I can watch the country side
and I can fall asleep.
(Arcade Fire- In the backseat)
Se tinha algo que gostava de verdade, era a chuva. Deliberadamente. Rostos preocupados, cabelos ao vento, corpos agitados, janelas fechando, olhos ao céu. Escorregões. Árvores vivas chacoalhando seus tentáculos-folhas, a paisagem escorrendo através do vidro do ônibus, as gotas no pará-brisas deslizando pra cima feito espermatozóides. As pessoas em movimento bem como os pássaros, os cachorros e as formigas, buscando um lugar seco pra se esconder. Trombadas. Guarda-chuvas contrastando com a brancura cinzenta, funcionários atrasados, roupas encharcadas, sustos de trovões. Adorava ver tudo se desarticulando, a ordem se desmanchando, a água caindo. Gostava principalmente daqueles que levavam a sério a máxima: quem tá na chuva é pra se molhar. Andavam tranquilos, com um sorriso de redenção, quando não, cantando pululantes. Ás vezes era ele próprio. Admirava a artimanha da imprevisibilidade. Nunca estivera numa enchente, talvez por isso a chuva era sempre uma agradável surpresa que quebrava a rotina. Só não gostava de gotas transformadas em tempestades num copo d'água.
sábado, outubro 17, 2009
Numamanhã
In the morning
When the world it gets so crowded that you can't look out the window
in the morning."
(Hazey Jane II- Nick Drake)
sábado, fevereiro 28, 2009
Aqui descobri que...
... sol esta longe de ser sinonimo de calor. Definitivamente.
... neve eh gelada, mas queima.
... nao se deve sair com cabelo umido senao congela.
... pisar na neve fresca ou no gelo formado por ela eh um daqueles prazeres amelipoulanisticos, tao bom ou melhor que pisar em folha seca ou folha-semente-helicoptero (uma especie cascuda que faz crequi barulhento).
... que crequis barulhentos em sua variadas formas sao viciantes. Isso explica porque M&Ms, amendoim envolto de bolinha branca (que sabe-se la do que essas bolinhas sao feitas), plastico bolha de estourar (se engana quem pensa que eles foram feitos pra proteger objetos de possiveis impactos) e biscoito de polvilho, sao tao bons.
... que 5 graus celsius eh uma temperatura morna pro inverno. Algumas pessoas decidem aproveitar o clima caliente e saem na rua, caminhando contra o vento, sem blusa, sem documento, so de camiseta e calca jeans. As vezes bermuda e chinelo. As vezes saia.
terça-feira, fevereiro 03, 2009
Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro...
Dean Moriarty: Uau, cara, tanta coisa pra fazer, tanta coisa para escrever! Como ao menos comecar a por tudo isso no papel sem desvios repressivos, sem se enrolar todo nessas inibicoes literarias e temores gramaticais...
(Em On the Road de Jack Kerouac)
Patti Smith: Right now I've been in this room in this city for so long I don't see it anymore and you know I'm not been stimulated. Lately I've just been doing a lot of cleaning inside my brain. My eyes are not seeing any thing around me. So I've been dreaming a lot, recording dreams and trying to look within, but I'm not worried about it. I'm just waiting for the moment when I'll get to take a train or plane someplace and I know I'll spurt out because I've just got to see new things. I think Rimbaud said he needs new scenery and a new noise, and I need that.
(Em Please Kill Me de Legs McNeil e Gillian McCain)
Sam: I once read an interview with a skater, I forgot who, and he said that the thing he couldn't ever believe about sport was how much concentration it took. You could be doing the best skating of your life, and the moment you started to realize that you were doing the best skating of your life, you were eating concrete. Skating well for nine minutes and fifty five seconds wasn't good enough, because five seconds was plenty of time to make a complete jerk of yourself. Yeah, well, life's like that too. It doesn't seem right to me, but there you go.
(Em Slam de Nick Hornby)
terça-feira, janeiro 13, 2009
Esses dias descobri que...
(mais dados sobre licenca maternidade no mundo:
... o vizinho do apartamento da frente - um senhor incognita que trabalha a noite, de voz rouca e forte, com barba comprida ate barriga, presa com alguns frufrus de cabelo (no caso, frufru de barba), esteriotipo de lenhador de filme, que mora somente com o companheiro, carente, velho, grande e preto cachorro - trabalha fazendo e assando paes em uma fazenda de trigo. Em um forno gigante, que, segundo ele, da pra entrar uma vaca em pe.
Alem disso, tem uma colecao grande de filmes western, alguns pasteloes e quase tudo do James Bond. Duas filhas que moram longe e dois netos. Nos idos 88, presenciou e sentiu o calor na espinha do gigante Yellowstone Park em chamas nao menos gigantes.
Descobri isso num tricotar de janela. Quando a abri para colocar a panela de brigadeiro pra esfriar (afinal, geladeira e desnecessaria quando se mora dentro de um freezer gigante), e ele estava na varanda com seu cigarro. Se aproximou e la se foi uma hora.
... batata frita sabor guacamole picante com queijo cottage e uma cervejinha e uma otima combinacao. Contudo, degustados em frente ao computador de madrugada, te faz parecer nerd. Ou, se voce nao e o Bill Gates, loser.
"You can say the sun is shining if you really want to, I can see the moon and it seems so clear. You can take the road that takes you to the stars now, I can take the road that'll see me throught."
(Nick Drake- Road)
sexta-feira, setembro 05, 2008
Querido Diário,
E ai chega finalmente a hora da festa, aquela vergonha de chegar, mas que logo é quebrada pela recepção calorosa! Da turminha, Claudiamy Winehouse já deixou fãs histéricos logo de início, a Adriana Miss Cochabamba esbanjou todo o glamour que lhe é devido, Nataly Beatrix estava demais com sua espada poderosa, Cá Wallace se comportou com classe, charme blasé e manteve seu chanel até o final, a Amanda se saiu bem de índia depois do contato com a cultura ocidental!
Rá, e eu não era a única de Homem Codorna! Havia um comparsa!
sexta-feira, agosto 29, 2008
Frutas vermelhas de pintinhas
(Cartola- Corra e olhe o céu)
Estava tão absorta em seus pensamentos aleatórios e indiferente a todo resto, que nem sequer cortou os morangos ao meio para assegurar que nenhum bicho da fruta espertalhão a surpreendesse. Fazia isso habitualmente, desde o dia em que um desses revoltosamente irrompeu a ordem e paz vigente. Mergulhava-os inteiros no pote de açúcar e levava-os a boca de uma vez. Pensava em tanta coisa abruptamente, e, incomodada que estava, resolveu voltar suas digressões aos moranguinhos.
Gostava da época de morangos. Aquelas frutas macias, doces e, ultimamente, com rancor de agrotóxico. Pensava que não se fazia mais morangos como antigamente, que de tão suaves e naturalmente adocicados, mergulha-los no açúcar era mais um bel-prazer do paladar infantil do que uma necessidade. Brotava uma vontade imensa sobre aqueles antigos morangos de feira, que por serem apenas morangos, eram auto-suficientes e deixavam qualquer outra fruta no chinelo. Daqueles que se comem puros e dispensa-se qualquer complemento: açúcar, mel, iogurte ou chantilly, misturados àquelas relíquias vermelhas de pintinhas, soavam como heresia. Dessa vez o açúcar já não era um capricho de criança, mas uma maneira de disfarçar o ranço daqueles belos e chochos morangos.
domingo, julho 20, 2008
Campanha VENHA DE TÁXI...
Resolvemos testar pra ver se não passava de pegadinha do Malandro. E não é que funcionou? Depois de ter que falar essa frase constrangedora, que mais parece que você está ligando pra um disk sexo, chegou o taxi.
Perguntamos pro taxista: Como funciona?
Taxista: É simples, vocês andam até 10 km e não pagam nada. Só isso.
Nós: Uhu! Estamos na Disney!
Carro na garagem, seguros, leves e soltos, mostrando a língua pra lei seca, chegamos ao bar contando da super novidade. Aí na volta, lá pela uma e pouquinho, felizes, contentes e pululantes, ligamos pra pegar o taxi de volta.
A nossa decepção foi quando a moça disse que já tinha se esgotado a quilometragem patrocinada pela J.W. daquela noite e nada de taxi grátis. Pensei se não era uma campanha publicitária, pois o jargão Keep Walking não saiu da minha cabeça.
Venha de táxi e volte a pé!
Keep walking my friend... keep walking
sábado, junho 28, 2008
Minha vida em apartamento cor de rosa
(The Kinks- Lazy Old Sun)
Recém mudada, ainda sem gás instalado, fomos pedir uma pizza. Tarefa número um: conseguir o telefone de uma pizzaria das proximidades. Eis que 'interfono' (verbo bizarro exclusivo da cosmologia predística, rapidamente incorporado) pro porteiro. Reproduzo o diálogo:
Eu: Oi, boa noite, quem é?
Porteiro: Sô eu!
Astutamente já deduzi que era o Seu Zé, de ter já ouvido falar na figura. O porteiro Seu Zé. Nada mais temático! Agora sim me sinto plenamente morando em prédio!
domingo, março 09, 2008
Velinhas e velhinhos
(Pasolini em Gennarello: A Linguagem Pedagógica das Coisas)
Não sei porque, todo velhinho tem um quê de alguma coisa que me chama a atenção. Principalmente os jovens, bem humorados, contadores de causos.
Mas há aqueles já semi mortos. Segundo um amigo meu que trabalha num asilo de luxo, ele preferiria morrer do que passar a velhice lá, mesmo sendo bem tratado, com mordomias e comida boa. Estarem cercados de gente que significam nada em suas vidas e mortes rotineiras contribuem pra irremediável certeza de que estão na sala de espera da morte. De alguma forma abandonados e, aparentemente, bem conformados. Já meio mortos na realidade.
Imagino que nessas circunstâncias, em que já não se vive, mas sobrevive na medida em que morre cada dia um pouco mais, o entretenimento maior é lembrar. Mesmo os que tem alzaihmer. Lembranças de uma vida que foi e não é mais. Com tanto tempo ocioso, tão sem o que fazer e tão sem vida, eu mergulharia em retrospectivas anacrônicas e intermináveis. Viveria pelo menos em pensamento. Num asilo creio que não há muito o que fazer. Quem sabe um tabuleiro.
Há aqueles também que parecem estar cansados de sua vida e tentam viver as alheias. Sabe aquele vizinho aposentado que fica na calçada exclusivamente para observar e conversar com quem passa por ali, esperando o momento em que um ou outro vizinho chega ou sai de casa pra poder prosear. Observam, perguntam tudo, fofocam, sabem da vida de cada um do quarteirão, sempre iniciam uma ou outra frase com "na minha época", palpitam, especulam, falam da esposa, dos filhos, dos cachorros, dos gatos da vizinhança, das coisas desnecessárias, fazem favores espontâneos e mais um monte de coisa relacionada a vida alheia ou passada. E assim passam os dias. Talvez pra esquecer que estão ficando velhos. Não sei.
Nota
Black Box Recorder
Tem coisa na vida que seria muito melhor se fosse pegadinha. Cada situação que eu já fiquei esperando surgir o Bozo dando tchauzinho no nariz falando enganei o bobo, na casca do ovo!
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
Poucas coisas são tão boas quanto...
... sair de casa sem seguir o sábio conselho do Jorge Ben Jor, tomar aquela baita chuva não-adianta-correr-vou-te-pegar, esperar o disputado e demorado ônibus intermunicipal domingueiro e, em casa, finalmente, sentindo-se um atleta urbano que venceu obstáculos, ser premiado com um banho pelante, um filme em preto e branco e brigadeiro na panela.
... fazer uma viagem planejada de um mês por lugares fantásticos. Quase tão bom quanto viajar é chegar. Sentar no trono, usar um banheiro que não é uma casinha com um buraco no chão. Dormir na cama limpa e confortável, nem dura nem mole e, acima de tudo, que não é o banco de um ônibus nem um saco de dormir. Tomar banho num chuveiro que sai água e, pasmem, quente! Comer comida caseira que não é menu turístico e nem suspeita.
Ah, voltar a tudo isso foi como contemplá-las em câmara lenta com música clássica ao fundo! Coisas boas da vida!
(ps: estilo do post plagiado do antigo blog da Bia, aliás, existe ainda Biapas?)
"You're not a baby if you feel the world. All of the babies can feel the world. That's why they cry."
(The Blow- Parentheses)
sábado, agosto 18, 2007
Esquecidos
A shady lane -- everybody needs one
Oh my god, oh my god, oh my god, oh my god
Oh my god, oh your god, oh his god, oh her god
It’s everybody’s god, it’s everybody’s god, it’s everybody’s god, it’s
Everybody’s god
The worlds collide, but all that I want is a shady lane.”
(Pavement- Shady Lane)
Quando eu era criança, e até o colegial, recordo-me de achar absurdo como as pessoas esqueciam as coisas. Das gerais as mais simples. Simplesmente esqueciam.
Ao voltar da escola com meu pai, vez ou outra ele parava no mercadinho desses de bairro pra comprar a cervejinha gelada relaxante pós dia intenso de trabalho, e eu pedia um chocolatezinho aerado pós dia intenso de escola. E, pro meu desapontamento e stress emocional, não entendia quando ele voltava ao carro sem o chocolate que eu havia pedido dois minutos atrás. “Putz, esqueci!”. Como as pessoas esquecem coisas tão simples?
Na minha mente infantil, também não havia espaço pra conceber a proeza de uma pessoa esquecer o nome dos professores que já teve, ou a idade que tinha quando deu o primeiro beijo, entre outras coisas. Como elas conseguem apagar tais informações que pra mim era tão natural saber, assim como se sabe o próprio nome?
Eis que um dia, além de estudar pra entrar na faculdade, comecei a trabalhar. Entrei em um mundo tão cheio de preocupações e ocupações que esquecer tornou-se uma quase rotina. Já não havia mais tempo para manter as lembranças ativas. Muitas delas foram fechadas em pastas e arquivadas num canto tão obscuro, que acabaram se perdendo por aí.
Outras vezes a cabeça estava tão turbilhada, que nem parecia perceber a realidade acontecendo. As idéias fogem de controle de forma que se faz necessário o uso de listas. Ao contrário, as tarefas mais simples podem se perder em meio às preocupações e pensamentos desenfreados.
Agora eu entendo. Mas me irrequieta a idéia de ter subido a bordo nesse barco cheio daqueles estranhos esquecidos! Memória é algo fascinante!
E da coleção de selos do meu pai:

quinta-feira, julho 19, 2007
The day is done
Down to earth then sinks the sun
Along with everything that was lost and won
When the day is done.”
(Nick Drake-Day is done)
Por entre as inúmeras possibilidades flexíveis e mutáveis, cá caminhamos no resultado das sucessivas escolhas. Bem sucedidas ou não. Conscientes ou não. Conformadas, ou não. E no não, vigora o pensamento naquilo que poderíamos ter feito e não fizemos, ou poderíamos não ter feito, e fizemos.
Contudo, o tempo rasga qualquer possibilidade viável e racional de acontecer o momento arrependido de outra forma. O consolo é que novos ventos virão. Invés de tentar corrigir o que já passou, encaremos os chamados erros como uma possibilidade dentre outras. Em nossa individualidade, erro só é considerado como tal quando a consciência perante a balança de causas e consequências se diz insatisfeita com o resultado. Que assim seja: Simplesmente um passado, causos feitos e desfeitos, que refletem no agora de maneira incomoda e que, no futuro, nem tão futuro assim, aos que meus vinte anos podem deduzir, será chamado de experiência.