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terça-feira, março 17, 2015

do diário de bordo


um dia no hostel em el chaltén - argentina

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Perceber o que se revela no que se esconde

"Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar
E o mundo por ser redondo, tem por destino embolar
Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar
Desde que o mundo é mundo, nunca pensou de parar
Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar
E tem hora que até me canso de ver o mundo rodar"

(Siba - Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar)



Das fotos de infância, essa é a que eu mais gosto. A não pose em família. Estão aí, estando. Talvez nem tivessem percebido que alguém tirava a foto. Esse alguém, provavelmente foi meu avô, registrando a benfeitoria do sítio: A roda d'água.

Não lembro dessa foto ter rodado em nenhuma tarde naqueles tempos, quando era hábito botar os álbuns na mesa para as visitas, entre a passada do café e um pedaço de bolo. Álbuns, estrategicamente construídos, com as melhores na frente e as ruins no final. Definir a ordem, os critérios de qual era boa, qual ruim, qual merecia ser a capa, qual merecia ficar de escanteio, era assunto a ser discutido. As escondidas no meio, aquela que alguém saiu de cara torta, ou que queimou, ou mais picante. Adorava aquelas de final de filme, que se misturavam, sobrepostas, duas em uma. De qualquer forma, não lembro dessa foto em álbum. Não sei se não lembro por ser muito pequena, ou se a foto ficou guardada em outro canto.

Um primo, depois que meu avô faleceu, encontrou nas coisas dele, escaneou e enviou para a família. Devidamente situado no espaço, com caneta BIC por cima da foto: SITIO ALIANÇA: II – Panorama. Mas não diz quando. O que me faz achar que era foto não de álbum de família, mas das coisas do sítio. Filho que vingou de Severino com Maria, entre as 13 de 21, ou de 22, pessoas, registrar a parte que conquistou nesse latifúndio era importante. Mais do que os rostos. A roda faz pose mais que todo mundo, mas não esta tomando o centro. Esta contextualizada, bem colocada, entre as pessoas, entre a água, o pasto, as árvores, o céu, que compõem o que cabem nesse pedaço de terra, se relacionam, nesse pedaço de enquadre. Constata vida, em relação. Não é paisagem, nem retrato. E é os dois meio ao avesso. O tamanho, a curvatura da coluna, o bronzeado, alguma característica que sobressai, o jeito de se colocar, torna as pessoas reconhecíveis. Não todas, não para todas. É preciso, além de um olhar mais demorado, uma certa convivência para reconhecer a personalidade dos corpos. As que estão na foto conseguem se auto reconhecer, imagino, e também reconhecer algumas mais próximas. Na mesma medida, desconhecem outras, que são reconhecíveis por ainda outros olhares mais chegados. Um jogo de adivinha. Para os mais novos: hum, quem é esse mesmo, maior que eu nessa época? Um jogo de memória. Para os mais velhos: hum, quem estava nesse dia no sítio mesmo?


Não lembro, e não sei, se essa roda tinha alguma função outra, do que garantir a diversão das férias. Pelo que sei do meu avô, com certeza devia ter uma função operacional principal, e se refrescar era só um adjacente, muito bem vindo e explorado. O que importava naquele momento, era o frescor de estar ali, no meio do pasto embaixo do Sol quente, num buraco raso com água corrente. As mulheres, jacarezando, sentadas para cobrirem seus corpos o quanto mais possível com água, sem muitos movimentos, ao redor, de olho nos filhotes. Os meninos, em volta da roda, de olho nela, agitados, em pé, em movimento. Pequenos, curtindo o remelexo das águas. Uma família, mais branquela, talvez mais urbana, se preparando para entrar na água, aos poucos. Outros ali chegando de roupa, já na intenção de tirar. Um outro tio ali mais próximo, na tranquilidade, contemplativo. To aí também, de orelhas grandes, jacarezando com as mulheres, mas de espreita no que os meninos estão fazendo, discretamente a caminho, inclinada pra frente, com um rastro de água atrás. Ser, estando. Ali, naquele espaço fora do tempo, enquanto roda a água e roda a vida.

segunda-feira, agosto 29, 2011

levantei-me.

"(...) levantei-me. fui ao gabinete do doutor bernardo e vi a minha elisa aterrada como ficava desde pequenina quando as situações eram maiores do que o seu pensamento e o seu coração não sabia como parar de sofrer.abracei-a e beijei-a. precisava ainda de mim aquela mulher de quarenta e nove anos. era ainda pequena como acho que somos todos nós para as coisas mais tristes."
(valter hugo mãe em a máquina de fazer espanhóis. p.52, 1a edição cosac naify)

quarta-feira, março 31, 2010

Nada

"I said this can't be me
Must be my double
And I can't forget, I can't forget
I can't forget but I don't remember what"

(I can´t forget- Leonard Cohen)


Que cheiro é esse? Que cheiro é esse que me tomou de jeito? Simples e suave. Cheiro de banho? Perfume, shampoo, sabonete? Um cheiro que me trazia lembranças que não conseguia lembrar. Já tinha sentido. Isso sim. Mas o cheiro não se transformou em nenhuma imagem. Fechei os olhos pra tentar visualizar.

Nada.

Não tinha lembranças associadas ao cheiro. Era só a sensação boa do cheiro. Será o rapaz ao lado? Me deu vontade de perguntar. Só que, pelo consenso social, ia parecer um flerte. Ou uma estranheza desvairada. De qualquer forma não estava interessada no moço. Apenas naquele cheiro. Cheiro de banho bom? Mas quem, naquela hora-noite-segunda-feira estaria saindo de um banho?

Nada.

As pessoas sonecavam com o balanço da van. E o fechamento dos olhos era facilitado pela luz capenga meio apagada. E a canseira. O fim do dia de labuta. Fechava os olhos pra sentir melhor o cheiro. Respirava fundo. Ai, que cheiro! Já tinha sentido antes, certamente. Já tinha sido bom, sem dúvidas. Mas da onde vinha?

Nada.

Sei que não de mim. Recorri a todo o acervo das memórias boas. Não achei. Respira fundo, pensa outra vez. Será que já beijei o cheiro? Será que já dormi com o cheiro? Cochilei. Dormi como um bebê. Sonhei. Acordei quando já havia chegado. Com um cutucão. Mas não lembrei do cheiro. E ele se foi.

E nada.

sábado, novembro 21, 2009

Just war

Just war, just war
You said it wouldn´t hurt
Goodbye, sleep tight
Cause surely, it´s ain´t just war
(Danger Mouse and Sparklehorse feat Gruff Rhys- Just war)

Pessoas transformando grãos em rochas, superdimensionando pequenos infortúnios, dramatizando tudo que não tem drama, procurando briga em ovo, fazendo-se de martír, complicando tudo que é simples. Reclamar era a palavra de ordem, em alto e bom som. Não na direção de mudança, mas para perpetuar o hábito da insatisfação plena. O lema: nada está bom e nunca estará. Nem os cachorros escapavam dos gritos, esses desarticuladores da ordem que pulavam quando não deviam. Talvez por nunca ter lutado em uma guerra de verdade, a guerra cotidiana era a mais terrível. Essa que vivenciava desdonde a memória alcança, quantas lágrimas e retalhos em segredo. Ninguém nunca soube, nem saberia. Afinal, era só uma melancolia de rotina.

Feliz quando chove

I like the peace
in the backseat,
I don't have to drive,
I don't have to speak,
I can watch the country side
and I can fall asleep.
(Arcade Fire- In the backseat)

Se tinha algo que gostava de verdade, era a chuva. Deliberadamente. Rostos preocupados, cabelos ao vento, corpos agitados, janelas fechando, olhos ao céu. Escorregões. Árvores vivas chacoalhando seus tentáculos-folhas, a paisagem escorrendo através do vidro do ônibus, as gotas no pará-brisas deslizando pra cima feito espermatozóides. As pessoas em movimento bem como os pássaros, os cachorros e as formigas, buscando um lugar seco pra se esconder. Trombadas. Guarda-chuvas contrastando com a brancura cinzenta, funcionários atrasados, roupas encharcadas, sustos de trovões. Adorava ver tudo se desarticulando, a ordem se desmanchando, a água caindo. Gostava principalmente daqueles que levavam a sério a máxima: quem tá na chuva é pra se molhar. Andavam tranquilos, com um sorriso de redenção, quando não, cantando pululantes. Ás vezes era ele próprio. Admirava a artimanha da imprevisibilidade. Nunca estivera numa enchente, talvez por isso a chuva era sempre uma agradável surpresa que quebrava a rotina. Só não gostava de gotas transformadas em tempestades num copo d'água.





sábado, outubro 17, 2009

Numamanhã

"What will happen
In the morning
When the world it gets so crowded that you can't look out the window
in the morning."
(Hazey Jane II- Nick Drake)

Não é que achava o mundo uma maravilha. Essa mania irritantemente polyanna era para fazer-se acreditar que ele não era tão mal assim. Sabia. E, além do mais, se assim o fosse, não queria fazer parte dos que reclamam porque está friozinho ou calorão. Sentia. Algo tinha que fazer sentido pelas manhãs. Se aquecia na água quente do chuveiro e na luz que vinha pelo vitrô. Se via na sombra do azulejo e no embaço do espelho. Sorria. E guardava em si todas as tristezas do mundo.

sábado, fevereiro 28, 2009

Aqui descobri que...

... nem toda neve cai em flocos estrelares cinematograficos. O ceu tambem manda umas bolinhas miudas incomodas e sem graca de isopor. So que quando decide caprichar, rapaz...

... sol esta longe de ser sinonimo de calor. Definitivamente.

... neve eh gelada, mas queima.

... nao se deve sair com cabelo umido senao congela.

... pisar na neve fresca ou no gelo formado por ela eh um daqueles prazeres amelipoulanisticos, tao bom ou melhor que pisar em folha seca ou folha-semente-helicoptero (uma especie cascuda que faz crequi barulhento).

... que crequis barulhentos em sua variadas formas sao viciantes. Isso explica porque M&Ms, amendoim envolto de bolinha branca (que sabe-se la do que essas bolinhas sao feitas), plastico bolha de estourar (se engana quem pensa que eles foram feitos pra proteger objetos de possiveis impactos) e biscoito de polvilho, sao tao bons.

... que 5 graus celsius eh uma temperatura morna pro inverno. Algumas pessoas decidem aproveitar o clima caliente e saem na rua, caminhando contra o vento, sem blusa, sem documento, so de camiseta e calca jeans. As vezes bermuda e chinelo. As vezes saia.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro...

Todos os dias frios eh um bom pra ler alguns.


Dean Moriarty: Uau, cara, tanta coisa pra fazer, tanta coisa para escrever! Como ao menos comecar a por tudo isso no papel sem desvios repressivos, sem se enrolar todo nessas inibicoes literarias e temores gramaticais...

(Em On the Road de Jack Kerouac)


Patti Smith: Right now I've been in this room in this city for so long I don't see it anymore and you know I'm not been stimulated. Lately I've just been doing a lot of cleaning inside my brain. My eyes are not seeing any thing around me. So I've been dreaming a lot, recording dreams and trying to look within, but I'm not worried about it. I'm just waiting for the moment when I'll get to take a train or plane someplace and I know I'll spurt out because I've just got to see new things. I think Rimbaud said he needs new scenery and a new noise, and I need that.

(Em Please Kill Me de Legs McNeil e Gillian McCain)


Sam: I once read an interview with a skater, I forgot who, and he said that the thing he couldn't ever believe about sport was how much concentration it took. You could be doing the best skating of your life, and the moment you started to realize that you were doing the best skating of your life, you were eating concrete. Skating well for nine minutes and fifty five seconds wasn't good enough, because five seconds was plenty of time to make a complete jerk of yourself. Yeah, well, life's like that too. It doesn't seem right to me, but there you go.

(Em Slam de Nick Hornby)

terça-feira, janeiro 13, 2009

Esses dias descobri que...

... nao existe licenca-maternidade remunerada na futura terra do Obama. Soube disso porque uma moca que trabalha comigo, 16 anos, tem uma filhinha de quatro meses. Perguntei se ela nao deveria estar de licenca, tendo como base o direito de 6 meses remunerados nas bandas brasileiras. Pasmei ao ouvir que em tres semanas apos o nascimento, ela ja estava na labuta. Bem estar social praticamente inexiste. Enquanto isso, na Servia e Montenegro, a licenca remunerada e de um ano, que podem ser revezados entre pai e mae.
(mais dados sobre licenca maternidade no mundo:
http://www.ilo.org/public/english/protection/condtrav/pdf/work_laws.pdf)

... o vizinho do apartamento da frente - um senhor incognita que trabalha a noite, de voz rouca e forte, com barba comprida ate barriga, presa com alguns frufrus de cabelo (no caso, frufru de barba), esteriotipo de lenhador de filme, que mora somente com o companheiro, carente, velho, grande e preto cachorro - trabalha fazendo e assando paes em uma fazenda de trigo. Em um forno gigante, que, segundo ele, da pra entrar uma vaca em pe.
Alem disso, tem uma colecao grande de filmes western, alguns pasteloes e quase tudo do James Bond. Duas filhas que moram longe e dois netos. Nos idos 88, presenciou e sentiu o calor na espinha do gigante Yellowstone Park em chamas nao menos gigantes.
Descobri isso num tricotar de janela. Quando a abri para colocar a panela de brigadeiro pra esfriar (afinal, geladeira e desnecessaria quando se mora dentro de um freezer gigante), e ele estava na varanda com seu cigarro. Se aproximou e la se foi uma hora.

... batata frita sabor guacamole picante com queijo cottage e uma cervejinha e uma otima combinacao. Contudo, degustados em frente ao computador de madrugada, te faz parecer nerd. Ou, se voce nao e o Bill Gates, loser.

... nao consigo dormir sem antes escutar todos os cds-pechinchas que comprei hoje. E por isso estou enrolando por aqui. Cds importados que te furam os olhos no Brasil, aqui se acha por uma bagatela. Razoes obvias.


"You can say the sun is shining if you really want to, I can see the moon and it seems so clear. You can take the road that takes you to the stars now, I can take the road that'll see me throught."
(Nick Drake- Road)

sexta-feira, setembro 05, 2008

Querido Diário,

Ontem fui a minha primeira festa a fantasia na vida, o Carnazebra. E olha, digo que não é tão simples assim quanto parece se você realmente incorpora o espírito da festa. Já estávamos pensando em nossas fantasias há algum tempo, na verdade a minha eu não precisei pensar tanto assim, imediatamente o herói da minha infância irrompeu com sua capa de lençol vermelho, a cueca por cima da calça e o cinto na cabeça: O Homem Codorna!
Aconselharam-me a mudar de idéia, afinal, ir com uma cueca por cima da calça quando você é uma menina não é lá muito bonito. Queimação total. Mas afinal, qual o propósito de uma festa a fantasia senão esse! Em recompensa, o comentário de apoio me animou, perco na sensualidade, mas ganho no carisma! Homem Codorna é mui simpático. E não é que é mesmo? Uma das coisas mais divertidas da festa é ver as pessoas sorridentes se identificando afetuosamente com o personagem! “Ah, o Homem Codorna!” Ou ainda, “Ah, A Mulher Codorna!, “Meu! Que legal!”
A produção das fantasias é outra coisa fantástica também. Exige noites pensando, dias de pesquisa, contatos pra conseguir os acessórios, um empresta daqui e de lá, uma cueca roubada, peruca comprada, ansiedade, técnicas de tatuadoras, divas que quase desistem de última hora, persuasão, pitacos de cá e de lá, improvisação, correria... ai, como diria um amigo, um FUROR TOTAL!

E ai chega finalmente a hora da festa, aquela vergonha de chegar, mas que logo é quebrada pela recepção calorosa! Da turminha, Claudiamy Winehouse já deixou fãs histéricos logo de início, a Adriana Miss Cochabamba esbanjou todo o glamour que lhe é devido, Nataly Beatrix estava demais com sua espada poderosa, Cá Wallace se comportou com classe, charme blasé e manteve seu chanel até o final, a Amanda se saiu bem de índia depois do contato com a cultura ocidental!

Rá, e eu não era a única de Homem Codorna! Havia um comparsa!
Outra coisa legal, é breja por um real e bandas e discotecagem supimpas pra dedéu! Onde mais se houve Clash, Led Zeppelin, Secos e Molhados e Chico Buarque num carnaval fora de época?
Enfim diário, a minha primeira festa a fantasia foi legal pra chuchu!
Até a próxima.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Frutas vermelhas de pintinhas

"Aaai! Corra e olhe o céu, que o sol vem trazer bom dia"
(Cartola- Corra e olhe o céu)


Estava tão absorta em seus pensamentos aleatórios e indiferente a todo resto, que nem sequer cortou os morangos ao meio para assegurar que nenhum bicho da fruta espertalhão a surpreendesse. Fazia isso habitualmente, desde o dia em que um desses revoltosamente irrompeu a ordem e paz vigente. Mergulhava-os inteiros no pote de açúcar e levava-os a boca de uma vez. Pensava em tanta coisa abruptamente, e, incomodada que estava, resolveu voltar suas digressões aos moranguinhos.

Gostava da época de morangos. Aquelas frutas macias, doces e, ultimamente, com rancor de agrotóxico. Pensava que não se fazia mais morangos como antigamente, que de tão suaves e naturalmente adocicados, mergulha-los no açúcar era mais um bel-prazer do paladar infantil do que uma necessidade. Brotava uma vontade imensa sobre aqueles antigos morangos de feira, que por serem apenas morangos, eram auto-suficientes e deixavam qualquer outra fruta no chinelo. Daqueles que se comem puros e dispensa-se qualquer complemento: açúcar, mel, iogurte ou chantilly, misturados àquelas relíquias vermelhas de pintinhas, soavam como heresia. Dessa vez o açúcar já não era um capricho de criança, mas uma maneira de disfarçar o ranço daqueles belos e chochos morangos.

domingo, julho 20, 2008

Campanha VENHA DE TÁXI...



Resolvemos testar pra ver se não passava de pegadinha do Malandro. E não é que funcionou? Depois de ter que falar essa frase constrangedora, que mais parece que você está ligando pra um disk sexo, chegou o taxi.
Perguntamos pro taxista: Como funciona?
Taxista: É simples, vocês andam até 10 km e não pagam nada. Só isso.
Nós: Uhu! Estamos na Disney!
Carro na garagem, seguros, leves e soltos, mostrando a língua pra lei seca, chegamos ao bar contando da super novidade. Aí na volta, lá pela uma e pouquinho, felizes, contentes e pululantes, ligamos pra pegar o taxi de volta.
A nossa decepção foi quando a moça disse que já tinha se esgotado a quilometragem patrocinada pela J.W. daquela noite e nada de taxi grátis. Pensei se não era uma campanha publicitária, pois o jargão Keep Walking não saiu da minha cabeça.

Venha de táxi e volte a pé!
Keep walking my friend... keep walking

sábado, junho 28, 2008

Minha vida em apartamento cor de rosa

" Sunny rain, shine my way/Kiss me with one ray of light from your lazy old sun"
(The Kinks- Lazy Old Sun)

Recém mudada, ainda sem gás instalado, fomos pedir uma pizza. Tarefa número um: conseguir o telefone de uma pizzaria das proximidades. Eis que 'interfono' (verbo bizarro exclusivo da cosmologia predística, rapidamente incorporado) pro porteiro. Reproduzo o diálogo:

Eu: Oi, boa noite, quem é?
Porteiro: Sô eu!

Astutamente já deduzi que era o Seu Zé, de ter já ouvido falar na figura. O porteiro Seu Zé. Nada mais temático! Agora sim me sinto plenamente morando em prédio!

domingo, março 09, 2008

Velinhas e velhinhos

"As primeiras lembranças da vida são lembranças visuais. A vida, na lembrança, torna-se um filme mudo. Todos nós temos na mente a imagem que é a primeira, ou uma das primeiras da nossa vida."
(Pasolini em Gennarello: A Linguagem Pedagógica das Coisas)


Não sei porque, todo velhinho tem um quê de alguma coisa que me chama a atenção. Principalmente os jovens, bem humorados, contadores de causos.
Mas há aqueles já semi mortos. Segundo um amigo meu que trabalha num asilo de luxo, ele preferiria morrer do que passar a velhice lá, mesmo sendo bem tratado, com mordomias e comida boa. Estarem cercados de gente que significam nada em suas vidas e mortes rotineiras contribuem pra irremediável certeza de que estão na sala de espera da morte. De alguma forma abandonados e, aparentemente, bem conformados. Já meio mortos na realidade.

Imagino que nessas circunstâncias, em que já não se vive, mas sobrevive na medida em que morre cada dia um pouco mais, o entretenimento maior é lembrar. Mesmo os que tem alzaihmer. Lembranças de uma vida que foi e não é mais. Com tanto tempo ocioso, tão sem o que fazer e tão sem vida, eu mergulharia em retrospectivas anacrônicas e intermináveis. Viveria pelo menos em pensamento. Num asilo creio que não há muito o que fazer. Quem sabe um tabuleiro.

Há aqueles também que parecem estar cansados de sua vida e tentam viver as alheias. Sabe aquele vizinho aposentado que fica na calçada exclusivamente para observar e conversar com quem passa por ali, esperando o momento em que um ou outro vizinho chega ou sai de casa pra poder prosear. Observam, perguntam tudo, fofocam, sabem da vida de cada um do quarteirão, sempre iniciam uma ou outra frase com "na minha época", palpitam, especulam, falam da esposa, dos filhos, dos cachorros, dos gatos da vizinhança, das coisas desnecessárias, fazem favores espontâneos e mais um monte de coisa relacionada a vida alheia ou passada. E assim passam os dias. Talvez pra esquecer que estão ficando velhos. Não sei.

Nota

"It's only the end of the world"
Black Box Recorder

Tem coisa na vida que seria muito melhor se fosse pegadinha. Cada situação que eu já fiquei esperando surgir o Bozo dando tchauzinho no nariz falando enganei o bobo, na casca do ovo!

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Poucas coisas são tão boas quanto...

... acordar na cama nuvem macia coberta pelo edredon quentinho e protetor, num dia de frio e, num estado semi-sono, quase sonhando, fechar os olhos, se acomodar em conchinha e engatar o sono-pedra e o sonho emendado ao anterior.

... sair de casa sem seguir o sábio conselho do Jorge Ben Jor, tomar aquela baita chuva não-adianta-correr-vou-te-pegar, esperar o disputado e demorado ônibus intermunicipal domingueiro e, em casa, finalmente, sentindo-se um atleta urbano que venceu obstáculos, ser premiado com um banho pelante, um filme em preto e branco e brigadeiro na panela.

... fazer uma viagem planejada de um mês por lugares fantásticos. Quase tão bom quanto viajar é chegar. Sentar no trono, usar um banheiro que não é uma casinha com um buraco no chão. Dormir na cama limpa e confortável, nem dura nem mole e, acima de tudo, que não é o banco de um ônibus nem um saco de dormir. Tomar banho num chuveiro que sai água e, pasmem, quente! Comer comida caseira que não é menu turístico e nem suspeita.
Ah, voltar a tudo isso foi como contemplá-las em câmara lenta com música clássica ao fundo! Coisas boas da vida!

(ps: estilo do post plagiado do antigo blog da Bia, aliás, existe ainda Biapas?)

"You're not a baby if you feel the world. All of the babies can feel the world. That's why they cry."
(The Blow- Parentheses)

sábado, agosto 18, 2007

Esquecidos

“A shady lane -- everybody wants one
A shady lane -- everybody needs one
Oh my god, oh my god, oh my god, oh my god
Oh my god, oh your god, oh his god, oh her god
It’s everybody’s god, it’s everybody’s god, it’s everybody’s god, it’s
Everybody’s god
The worlds collide, but all that I want is a shady lane.”


(Pavement- Shady Lane)


Quando eu era criança, e até o colegial, recordo-me de achar absurdo como as pessoas esqueciam as coisas. Das gerais as mais simples. Simplesmente esqueciam.

Ao voltar da escola com meu pai, vez ou outra ele parava no mercadinho desses de bairro pra comprar a cervejinha gelada relaxante pós dia intenso de trabalho, e eu pedia um chocolatezinho aerado pós dia intenso de escola. E, pro meu desapontamento e stress emocional, não entendia quando ele voltava ao carro sem o chocolate que eu havia pedido dois minutos atrás. “Putz, esqueci!”. Como as pessoas esquecem coisas tão simples?

Na minha mente infantil, também não havia espaço pra conceber a proeza de uma pessoa esquecer o nome dos professores que já teve, ou a idade que tinha quando deu o primeiro beijo, entre outras coisas. Como elas conseguem apagar tais informações que pra mim era tão natural saber, assim como se sabe o próprio nome?

Eis que um dia, além de estudar pra entrar na faculdade, comecei a trabalhar. Entrei em um mundo tão cheio de preocupações e ocupações que esquecer tornou-se uma quase rotina. Já não havia mais tempo para manter as lembranças ativas. Muitas delas foram fechadas em pastas e arquivadas num canto tão obscuro, que acabaram se perdendo por aí.

Outras vezes a cabeça estava tão turbilhada, que nem parecia perceber a realidade acontecendo. As idéias fogem de controle de forma que se faz necessário o uso de listas. Ao contrário, as tarefas mais simples podem se perder em meio às preocupações e pensamentos desenfreados.

Agora eu entendo. Mas me irrequieta a idéia de ter subido a bordo nesse barco cheio daqueles estranhos esquecidos! Memória é algo fascinante!


E da coleção de selos do meu pai:

quinta-feira, julho 19, 2007

The day is done

“When the day is done
Down to earth then sinks the sun
Along with everything that was lost and won
When the day is done.”
(Nick Drake-Day is done)


Por entre as inúmeras possibilidades flexíveis e mutáveis, cá caminhamos no resultado das sucessivas escolhas. Bem sucedidas ou não. Conscientes ou não. Conformadas, ou não. E no não, vigora o pensamento naquilo que poderíamos ter feito e não fizemos, ou poderíamos não ter feito, e fizemos.

Contudo, o tempo rasga qualquer possibilidade viável e racional de acontecer o momento arrependido de outra forma. O consolo é que novos ventos virão. Invés de tentar corrigir o que já passou, encaremos os chamados erros como uma possibilidade dentre outras. Em nossa individualidade, erro só é considerado como tal quando a consciência perante a balança de causas e consequências se diz insatisfeita com o resultado. Que assim seja: Simplesmente um passado, causos feitos e desfeitos, que refletem no agora de maneira incomoda e que, no futuro, nem tão futuro assim, aos que meus vinte anos podem deduzir, será chamado de experiência.