quarta-feira, novembro 03, 2021

Pitangas

Tava lá no forró. Finalmente forró, primeiro depois da pandemia. Música, dança, diálogos diversos corporais, que anseio por esse momento. Mas senti falta mesmo de nós, de meia no piso de taco, dando risada solta e dançando engraçado na sala escura com a playlist que fiz pra nossa matinê. Sinto falta da intimidade. De você chegar na minha casa apressado pro banho, pra tirar cheiro de cozinha do trabalho, e a gente papear eu sentada na privada enquanto você tá no chuveiro. Dia seguinte, ressaca emocional.

Mas vida segue, vai, espairece, Botar o fone, caminhar até a natação, catar pitangas no caminho. Pois cá nas minhas terras tem pitangueiras, onde cantam os bem-te-vis. E lá no programa de rádio que eu escolhi escutar pela internet, Minha Canção especial Otis Redding, a locutora fala de Cassia Eller. A Sarah Oliveira e você tem a mesma percepção sobre a Cassia. E a Cassia tem uma versão esmirilhante de uma canção do Otis. E eu lembro da gente no carro ouvindo as canções dela que você escolheu, e contando dos seus afetos com elas na tua vida. E eu prestando atenção. Descobrindo uma nova versão da Cassia que você me apresentou, e te adentrando camadas.

Mas vai, espairece, vida segue. Na nadação eu esmirilho feito a Cassia, todo meu fôlego e foco nas braçadas e no deslize das águas. Na volta, mais pitangas e também grumixamas no caminho. Quase esquecendo, passa um fusca azul. Mas não um azul ofuscado. Um azul cor da piscina, brilhoso, recém pintado, chamativo. Sinto falta da tua perna parruda pra dar aquele soco rápido embolado na palavra feliz de quem faz pontos: fuscazul! Aí em casa, vou ouvir o Minha Canção especial Itamar Assumpção. Meu Itamar, de cabeceira pra todas as horas, um artista amigo conselheiro que me preenche a alma. Aqui não há espaço outro pra não eu. Mas aí no programa, a Sarah evoca mais uma vez a Cassia, e eu nunca soube que a Cassia cantava Itamar. Não somente, o filho dela, o Chicão, dá depoimento no programa. Ele também gravou Itamar.

Mas espairece, vida segue, vai. Mais uma tentativa, vou pro especial Neil Young. E esqueci, ato falho quizás, tem a canção Harvest Moon, que te mostrei o clipe uma vez, sobre lua cheia, e sobre o casal que dança junto quando se conhecem, e depois dançam juntos como se fosse a primeira vez, anos depois. Eu chorei quando te mostrei esse clipe, talvez com a possibilidade sonho de ser a gente aquele casal velho dançando como jovens, coisa de gente apaixonada. E lembro também quando te levei pra ver o nascer da lua cheia, e você me levou pudim de leite sabor pistache. E sinto tremenda saudades dessas nossas transcedências cotidianas.

Mas... choro pitangas, tantas quantas as que eu colho e como por aí. Uma hora a safra passa. 

 



 

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