sábado, novembro 13, 2021

Desabraço

"Onde se encontra a beleza? Nas grandes coisas que, como as outras, estão condenadas a morrer, ou nas pequenas que, sem nada pretender, sabem incrustar no instante uma preciosa pedrinha de infinito?"

(Muriel Barbery em A Elegância do Ouriço)

 

Eu nunca me senti tão aconchegada em tamanho abraço. Me abarcava por inteira no teu corpo transatlântico. Nele, gostava de estar em silêncio pra sentir os sutis movimentos da tua presença, te degustar os cheiros, texturas e temperaturas. Me esvaia os pensamentos e me trazia certezas, serenas intensidades. Ficava assim feito mamífera buscando pra que mais centímetros do meu corpo ficassem junto aos milímetros do teu. E era fácil, a gente ornava nessa vontade de se grudar. Teu abraço era meu cafofo, aonde eu faria morada infinita. Quando o despertador tocava, aí é que a gente ficava mais de grudinho ainda, como se quisesse esticar o tempo e diminuir a urgência da vida. Pena, nossas vidas não se cabem tão bem quanto nossos abraços.


Ao som de Nick Drake.

"So I'll leave the ways that are making me be
What I really don't want to be
Leave the ways that are making me love
What I really don't want to love"
Time has told me

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