Sabe aqueles 10-15%
não superados, aceitos e já sem expectativa de superação? Eles brotam
quando a vizinha usa o mesmo sabão em pó que você usava e, no hall
da entrada do apê, vez ou outra esse cheiro me atravessa. Me
atropela então a lembrança de você chegando na minha casa,
preocupado com o cheiro de cozinha que ficava impregnado do seu dia
de trabalho. E eu querendo te abraçar de qualquer jeito, com aromas
de óleo misturado com cheiro de roupa lavada. Lavar a roupa aliás,
era uma constante dos nossos encontros. Na primeira vez que você
dormiu aqui, você já perguntou se podia lavar roupa na minha casa.
Você sempre estava lavando roupas aqui ou na sua casa. Eu até
comprei sabão em pó pra te deixar aqui, já que talvez meus métodos
mais ecológicos não dessem conta da gordura do seu trabalho. O
relacionamento acabou antes dele. E eu dei graças a deus quando seu
sabão, que nem era o mesmo do teu cheiro, acabou. Pois toda vez me
lavava de lembranças e lágrimas. Mas céus, ainda teu cheiro
transborda no hall de entrada, bem na porta de casa. Vontade de bater
na porta da vizinha e dizer moça, troca o sabão, está fazendo mal
pro meu coração. O cheiro faz presente a tua ausência. Eu queria mesmo passar uma cândida pra não
sobrar nada. Desinfetar a saudade daquele teu abraço engordurado. Fazer desdurar tua falta.
Eu nem sei porque sinto tanto sentimento por você. Apesar e ainda. A pesar, ainda.
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