Santa Monica - California
(sem acentos)
Primeiro dia. California- Inglewood, um condado de Los Angeles. Tudo certo, contrato assinado, ia trabalhar de garconete em um hotel chamado LA Adventurer. O nome cai como um belo prenuncio. O quadro da cidade: metade mexicano, metade negro. Quase me senti em um filme. daqueles de gansgster, em que um cara chega no outro, no gingado, meio cantando mandando um rap "whatzz uuup maaan:". E rola meio que uma segregação, há bairros de negro de um lado, bairros de mexicanos do outro.
O quadro do hotel: um hostel de backpackers. O dono, um charlatao que aparece num dia de camisa florida a la California, e no outro dia de terno bege a la cafetao. Umas 20 meninas foram chamadas pra trabalhar la como garconete e camareira, e somente duas efetivamente comecaram a trabalhar. Enquanto isso, ficamos hospedadas la, esperando o bom humor do chefe pra falar com ele sobre o emprego. Ainda tinhamos uma esperancinha. O quarto: 9 beliches, uma pia no canto e um unico banheiro. Em uma das camas, morava a faxineira. Holandesa, Mary Ann. Ha 13 anos fez da cama seu lar. Em suas horas livres, fazia ponto cruz, lia a biblia ou ficava sentada a mesa em frente a piscina bebendo cerveja e jogando suas bitucas de cigarros em seu copo-cinzeiro. Deixava-o toda vez estrategicamente cheio ate a metade de cerveja quente. Quando subia para dormir, cambaleando, o copo, solitario, ja estava quase transbordando com todas aquelas bitucas naquele liquido amarelo acinzentando. A sua imagem e semelhanca.
Seus pertences materiais resumiam-se a tudo que cabia embaixo de sua cama e uns utensilios sujos na pia, inclusive uma cafeteira velha e encardida, e um aquario com agua turva e um peixe beta moribundo. (A sua imagem e semelhanca.) Provavelmente o ser com quem mais tinha afetos e mantinha a relacao mais duradoura daquele hotel inteiro, diria que do pais. Alias, do universo. Impossivel nao notar o odor especifico de coisa largada e descuidada quando se passava ao lado de sua bed sweet bed.
Uma vida insonsa, vista com aversao e certa repugnancia, banal. Passivel de ser digna de pena. Mas nas linhas de um bom escritor, renderia um excelente livro sobre a existencia humana.
Voltando a furada coletiva, sem emprego, grana curta, sem previsao de trabalho, em um pais-potencia em crise. E incrivel como o tempo parece se espremer nessas situacoes. Tanta coisa acontece e pode mudar completamente de direcao de uma hora pra outra, tal imprevisibilidade e sensibilidade a flor da pele, intensifica e potencializa cada momento, seja ele bom ou nao. Tem momento em que tudo que se quer e voltar pra casa, pro sol quente, e preparar um prato de arroz com vinagrete, banana barata e ovo frito e ficar a observar a paisagem cotidiana segura e familiar. Outros em que se quer tentar a todo custo enfrentar a situacao e continuar com os planos e estar nos mais diferentes lugares possiveis. Algumas das meninas em duas ou tres semanas se tornaram amigas de infancia. Mas a maioria das pessoas so conhecemos apenas de passagem mesmo, em curtas e fragmentadas doses. Morar em um hostel e deveras estranho. A maioria das pessoas, com excessao de Mary Ann, passam por la com uma predisposicao pra conhecer outras pessoas. No comeco e legal conversar com gente de tudo quanto e lugar. As vezes soa forcado, passageiro, superficial e fugaz demais.
Vi as letrinhas famosas no alto da montanha, as estrelinhas da calcada e algumas praias. Agora estou em Santa Monica, terrinha do Malkmus. E sexta-feira vou pra Montana, trocar o sol gelado californiano, pela neve ainda mais gelada.
A beatle! Em Inglewood, ie, existem fuscoes por aqui! Contei uns 7 ja.
Cada cruz representa um soldado americano morto na guerra do Iraque. Todo domingo eles fincam na areia e recolhem no por do Sol. Se fosse o contrário, provavelmente não restaria praia.
Kiss!
Foto de Ana. Aquela luz la atras e a lua.
No quarto de 18 camas, com as companheiras de aventuras!
Run, Forrest, run!
Here's Johnny!
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